segunda-feira, 16 de maio de 2016

Homero e a Terra Desolada



Abril é o mais cruel dos meses
Vês alguma vez o que viu na ida?
Amor não é anseio que assola a Terra
É desespero feito no barro da despedida
Modéstia sombra anseia ainda alguma vida
Não é metal que sola a mente, a voz enterra
Pelas raízes. Pela carne. Onde quer que a alimente.
Ich bin nicht wirklich ein Gedicht ,
nur versuchen ,mein Leben zu sein.

Baseado na obra "A Terra Desolada, de T. S.Eliot"

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Cronicas do Homem Moderno- Parte 1








Adalberto: Eu não aguento mais esse barulho de que tudo pode ser resolvido em uma troca de mensagens ou em um xingamento de até 140 caracteres. O mundo e uma crise sem tamanho. Eu acho que não suporto ver tanto unfollow, ou o que diabos isso signifique! Se eu sigo alguém no Tinder? Eu não... Só sigo a minha filha pra ver o que ela ta aprontando mesmo[...]

LIGA A TELEVISÃO (HOMEM DESCONHECIDO FALANDO)

Desconhecido: [...] Então é assim que eu posso aproveitar o máximo dessa cachoeira, olhem só! Eu ligo o aplicativo aqui no meu celular e ele já aponta pra mim se o nível da água está bom, se a correnteza não está forte. Já sei tudo. É rápido e prático, facilita muito em qualquer tipo de ambiente

Repórter:- E você não vai entrar ? (E olha para baixo, estando os dois no cume da cachoeira)

Desconhecido: Ah...não, não. Aqui fala que o nível da água vai aumentar por causa de uma correnteza vinda do rio mais próximo, deixa pra depois

OS DOIS EM SILÊNCIO CONSTRANGEDOR

Adalberto: Viu? O que merda a gente tava acabando de falar? Essa é a geração do mimimi. É isso mesmo que eu acho, sabe? Não pode ver uma coisa que já tão reclamando,aplicativo pra dormir, pra namorar, pra fazer tudo, que P* é essa?  Na minha época, mulecada dessa não perguntava, se jogava era mesmo na cachoeira, tomava banho de mar. Não tinha medo de nada[...]

ANDANDO PELA RUA, PESSOAS ALEATÓRIAS CONVERSANDO

Pessoa 1- Ei, qual era mesmo aquele pokemon voador famoso?
Pessoa 2- Qual... O Bulbassaur? HAHAHAHA
Todos começam a rir.- Não pô, é aquele amarelo que solta raios
Pessoa 1- Ah, sim... O pikachu! HAHAHAHA

Nota do Editor: Nesse momento estou mudando a pagina para outra porque noto que uma mulher sentada próximo de mim na biblioteca está quase torcendo o pescoço pra ler, quando eu tiro ela vira e fala pra mim:
- Ah, mas tava tão legal!!
- Eu não er.. terminei, quando terminar você olha, essa conversa é só entre eu e o Adalberto!!
respondo
-OK.- ela olha pra mim como se eu fosse louco. Talvez agora sim ela não queira mais ler. Devia tentar ser mais gentil. Ah..deixa pra lá, vamos continuar a crônica!

Adalberto: Viu? É tudo muito rápido. Ninguém mais sabe o que quer, criança! Todo mundo quer fazer tudo, o tempo todo. Não existe mais foco, concentração. Agora tudo está a alguns dígitos de distância e as pessoas são números. Toda a informação está aí, pra quem quiser... Mas será que alguém a está escolhendo da maneira certa?

Falo pra ele que tudo é uma distração. E que isso pode ser provado pelo simples fato de estarmos tendo essa conversa imaginária nas linhas desse texto. Lembro que deveria estar estudando, mas estou aqui escrevendo. Volta. Volta. É difícil mesmo não pensar em algo quando alguém fica te dando maus conselhos...

BIP.BIP. "Fulano de Tal comentou na foto de Você e Amigos. Beltrano aceitou sua notificação, vocês agora são amigos, deixe uma mensagem pra ele comemorando sua amizade e fazendo ele pensar que você se importa com isso. Cicrano tem mais gostei em uma foto do instagram. DM's são mensagens mais pessoais-sério-só faça isso se a pessoa te der intimidade, senão...e roubada

MUDA O CANAL(PROGRAMA DE AUDITÓRIO)

Apresentador: Então, agora nós vamos descobrir o que essa galera maravilhosa que viajou para Dubai está fazendo por lá... Ah, claro que vocês vão ver a riqueza do local e como Dubai é deslumbrante

Adalberto: Queria estar lá... E não aqui nesse emprego de 8 horas por dias, em que você recebe um minguado. O premio do seu patrão depois de mais de 20 anos de serviço na empresa é poder descontar a raiva dele em você. É quase uma função vitalícia do cargo de chefia ou de seu superior hierárquico: descontar a raiva em quem tem um cargo menor na empresa...E assim vai se aprendendo a conviver...Porque viver é mais difícil..

Falo que a vida e uma tempestade de pensamentos e pessoas querendo achar um sentido nisso tudo. Muitos tentam impor os seus achismos como se seus pensamentos fossem parte de alguma verdade absoluta e imponderável. Adalberto esta errado? Não. Ele vê o mundo a sua maneira. Cada um é escravo de sua própria percepção. Cada um morre todo dia não por aquilo que algum dia já viu, mas porque não viu o que somente outros conseguem ver. A cegueira é uma parte instantânea de ser outro. Tudo o que existe está em uma rede social chamada percepção. Andamos muito distraídos.


quarta-feira, 30 de março de 2016

A Janela através do Vidro









Viver para procurar um retrato
O vidro pálido e narcísico me reflete distorcido
De tão frágil, esquálido, se torna fato
Factual é a certeza de não ter vivido
A transparência é algo que emana vida
Palavras distorcem minhas veias
E me dizem: Se afaste qualquer que seja o jeito!
Minha sina assassina qualquer sujeito
Mais um humano tentando ser perfeito!
Estilhaços percorrem meu corpo em vermelho
 Atravessando algum vazio desse espelho
Quase não possuem nenhum som
Quase não tem nenhuma voz
Elas vêem o interior
De cada um de nós

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Saber a sede




Diz-se o não se não se quer dizer
Sem sequer saber o que se dizer
Se assim o não que se diz não lhe seduz
Se tens a sede do dizer, não o dizes
Dizer o que não se sabe é querer se saber
Sempre que-sem querer-o saber te incomode
Não se acomode, o saber é dizer o dizer
Mas se alguém te disser que tudo sabes
Saiba que o não sempre foi o que me disses
De ser. De saber. De sabor. Sem saber a sede

terça-feira, 28 de abril de 2015

Distopia







O que aconteceu com a gente daqui?
Todo mundo está sempre tão distante
O céu não dura nem mais um instante
Está tudo tão diferente...(enlatado)
Se a verdade é a ponta do novelo?
Eu não invento o mundo
O mundo é apenas um grande apelo
Todos estão juntando as pontas
Desenrolando os nós (das gargantas)
E se perguntando se tudo ainda tem jeito
Eu não sou aquele que procura a resposta
Pois ainda estou buscando o conceito
O que será de nós?
A vida é um imenso vazio
Não mudo. Estou mudo. Do outro lado do rio
Percepção? Humanidade? Nada disso tem sentido
Sou apenas o fruto da loucura de um dia ter vivido
Daqui você pode ouvir algum som? É meu tempo acabando
Melhor ele já ir embora, pois os séculos só estão passando
"Nada do que é humano me é indiferente"
Pois era o que eu costumava ser
Indiferente








terça-feira, 14 de abril de 2015

Memórias de meus amores roubados-Parte Final









O amor é aquilo que não se pode conter. Talvez essa seja a maior virtude do amor. Talvez seja a sua maior fraqueza. Como conter aquilo que não se pode abraçar? Será que é sonhar demais? Todas essas perguntas passavam pela cabeça de Brian, enquanto ele avançava sem parar, em meio a uma frenética corrida por respostas. Ele sabia que era arriscar muito, mas aquele órgão em cima de sua caixa torácica saltitava inconstantemente, como se o desafiasse a provar que os ponteiros do relógio poderiam estar errados. Perdendo a respiração, chegou em meio à indicação do final do livro e viu com decepção o banco de madeira em frente ao sobrado abandonado. Somente um leve vento soprava em cima do banco carcomido pelos cupins. Devia admitir que aquele lugar era belo em outros tempos pelo modo delicado em que a fibra de madeira estava trabalhada, talhada e polida, ainda que coberta de poeira e fuligem. Deveria se sentir aliviado por não encontrar quem fizera perder o caminho até ali. Mas não estava. Todo o seu juízo tremia por respostas. Estava determinado a encontrar Louise, nem que para isso precisasse passar um longo tempo sentado. Não demorou muito para que uma menina andando passos largos chegasse e sentasse ao seu lado;
               -Espero que não se importe com meu amigo aqui-e deu um breve sorriso
               -Não, eu já estou acostumado com Mick. Somos iguais em muitas coisas- arriscou
               -Bem, você está pronto então?- disse Louise com uma cara séria
Não encontrei nada para responder, somente continuei encarando tentando esconder minha surpresa.
               -Pronto para que?- Louise falou o que estava pensando naquele exato momento
               -O amor, não é mesmo? Sempre ele-continuou
               - Parece que nada pode escapar do amor, nem ele mesmo! Como podemos entender uma virtude que ao mesmo tempo é vício? Os poetas falam de musas inspiradoras, os pintores de inspiração divina, outros mais conservadores chamam de motivo, mas todos em todos os lugares somente dão importância para os sentimentos físicos, você já se perguntou o porquê disso?- e me provocou
               - Você falou de parece, que vem do latim pareo que significa aquilo que aparenta ser. Arrisco-me a dizer que o amor é aparente- retruquei de imediato
               - Mick, pare de dizer que ele é dos seus!- virou irritada para dizer ao seu lado
               - Isso, o amor é como um vício aparente de sua própria personalidade. Lembra-se o que conversamos no primeiro debate? Somos aquilo que os outros moldam de nós. Não existe completude no amor!- disse mastigando palavras para soar dramática
               -Ela chama conversas de debates- aquilo simplesmente faíscou minha cabeça
               -Os sentimentos físicos são a importância imediata daquilo que consideramos. Sei que você vai dizer que não somos animais e que os desejos tem seu lugar de destaque na evolução. Ah, quem inventou essa história de que tudo o que pertence ao homem é evoluído?- e soltou a respiração
               -Mas o amor físico é uma consequência natural do ser humano, todos nós somos movidos por sensações inesperadas. O amor não decorre sempre de sensações químicas que se transformam em físicas!- rebati
               -Sei, sei!-disse em tom debochado- Os sentimentos são como fotografias, eles estão lá emoldurados, esperando para serem olhados e ativados, não é?
               -Não- interrompi- o amor não é de todo lógico, me recuso a acreditar que somos escravos de emoções. Porque assim elas se tornariam nossos deuses. Só viveríamos por elas e não por nós...mesmos!- não acreditava onde Louise havia me levado
               -Seja feliz. Compre esse jeans! Você não está vendo essa oportunidade? Vai perder a chance  da sua vida? Você é especial! Ame coisas supérfluas e seja igual a todo mundo quando tudo que você buscava era ser diferente, mas veja só... você já era diferente!- sua voz irônica era imbatível
               - Amar é ser egoísta buscando ser diferente mas sendo você mesmo!- soltou em voz baixa ajeitando os óculos.
               -Esse é o ponto em que o amor não pode escapar-continuou ela
               -Então o verdadeiro amor é egoísta?-provoquei.- Um sentimento venerado decorre de uma coisa que as pessoas não querem ouvir falar?-segui com o ponto
               -Sim, para cada chance que temos na vida, fazemos um destino novo: mudamos de casa, de emprego, de família...Mas quantas vezes você já viu alguém mudar de amar? O amor em si, é algo extremamente belo e essencialmente substancial- Louise sussurrou baixo como se aquela fosse a mais profunda das verdades
               -Eu preciso que as pessoas entendam- continuou em tom melódico- De todas as mais belas obras de arte, de toda a poesia e das coisas mais simples da vida, existem aquelas que você não consegue destruir, aqueles amores que fazem parte de você- e olhou para o vazio
               Depois de algum tempo em que continuávamos refletindo sobre amores roubados, entendemos que a memória daquilo que amamos era essencial para definir quem somos. Talvez eu nunca mais tenha visto aquela menina com armação e lentes grossas que teimava em ter argumentos para qualquer assunto.E não só isso. Mas de convence-lo de que aquilo era verdade. Talvez ela seja aquela mesma pessoa que encontro sentada todos os dias de quinta no banco dessa mesma praça. Ou talvez seja aquela mesma que interrompe pessoas na rua lhes perguntando sobre o amor. Talvez eles estejam ignorando a si mesmos quando dizem que tem pressa e não querem ouvir. Ou simplesmente vivem sem sentir, lembram o que não é para lembrar e falam sem amar. Talvez amar seja mesmo isso

Obs 1: Aprendi muito com Louise e essas memórias, fazendo delas todos os meus dias possíveis
Obs: 2: Mas não aprendi a amar diferente, apenas a adaptar o meu amor
Obs  3: Amor não se pode conter, vivemos apenas querendo apressar os ponteiros 
Obs 4: Respostas são a confirmação de que ainda existem perguntas que foram roubadas


Memória X: "O amor e as memórias são rit(m)os constantes, como o mar em relação ao horizonte, não podem ser separados e nem contidos pelo olhar"


























domingo, 30 de novembro de 2014

Astrolábios







No universo mergulhei mais fundo
Quão profundo é o juízo dos teus lábios
São capazes de confundir o mundo
Que a escuridão é a natureza dos sábios

Não encontro palavras para explicar
Estou perdido na imensidão do teu sorriso
Já marquei uma órbita na direção do teu olhar
Encontrando o caminho mais estranho do paraíso

Tudo está sempre junto, separado por constelações
E se as estrelas não passarem de sentimentos?
Observamos à luz do luar, céus e corações
E vivenciamos de novo cada um desses momentos

Nunca estamos realmente sós
Vem sentir de novo o pó do meu abraço
O universo é como uma casca de noz
E o amor é o caminho que eu traço