terça-feira, 22 de abril de 2014

Memórias de Meus Amores Roubados

                   



                                                                                                                                                     

Sou daqueles que acreditam no amor. Sim, acreditar não é apenas falar incessantemente dele e apregoá-lo como se fosse a salvação de tudo que respira e possuí vida. Alias, não acredito que a vida de alguém seja de propriedade de outro ser, porque se assim fosse não estaríamos falando de amor, mas de obsessão, que nada mais é que sentimentos disfarçados em diferentes emoções. Cada qual enxerga apenas a fantasia que almeja, aquilo que espera que aquela pessoa realize para satisfação de seu próprio ego. Sou capaz de ouvir ao longe a loucura de todos esses momentos, que vêm a tona sem serem convidados, em um instante em que gostaria de lembrar e fazer com que todos vocês que lerem isso também os conheçam.Saibam que a intenção é a melhor possível, contudo, não sei explicar com palavras o que aconteceu, mas tentarei fazê-lo e para tal peço a ajuda de vocês, e se possível, de suas memórias também.

"Amor é uma satisfação, sobretudo, pessoal"-Memória número 1
                      Ainda lembro daquela frase tão simples e genial enquanto levava tranquilamente o café à boca, tentando soar da maneira mais natural possível. Descia a xícara de maneira compassada, assim que minha mente trabalhava naquilo. Ouvi quase que instantaneamente os passos de um sapato fino, preto e pontiagudo que presumi ser o de Ricchardo a tabalhoar o chão de madeira da parte de fora do estabelecimento. Ricchardo trabalha na cafeteria há pelo menos duas décadas, seu andar extravagante e prestativo fizera ele ser considerado por muitos como um maitre sem igual. Ele certamente se orgulhava disso. Mas aproveitava para cobrar as gorjetas mais caras também
                      -Mais alguma coisa, senhor?
                      -Não, não, só isso está bom-respondi com educação
                      O educado garçom apenas saiu em tom de cortesia, enquanto eu procurava focar meu olhar em direção de Loiuse, a quem me fizera tão desconcertante afirmação
                       -O que te faz pensar assim?-perguntei
                       -Não sou "eu" que penso assim-enfatizou-É só você perceber que as pessoas ao procurarem o amor somente querem ter uma posse, seu corpo, sua mente, seu dinheiro, tudo o que você apresenta para as pessoas é uma representação de você!-concluiu
                       -Mas há algo de errado nessa afirmação-rebati- Se você admitir que tudo o que eu apresento é uma representação, então quer dizer que eu só tenho um comportamento, quando na verdade para cada relação social existe um padrão que é considerado moralmente aceito,ou seja, um comportamento.
                       -Sim, mas existe uma diferença entre comportamento e personalidade. Bem, vou lhe explicar-E ajeitou o óculos, fazia isso toda vez que ia rebater de maneira violenta uma argumentação-
O que acontece é que o comportamento é o que você exterioriza para os outros, personalidade é aquilo que você realmente é, os dois coexistem em você, mas isso não significa que você vai admitir o que realmente é.
                       -E se eu dissesse que te amo?- interrompi de supetão
                       -Amor é um comportamento e uma personalidade. Comportamento porque é ligado a substâncias químicas próprias e personalidade é um comportamento próprio, um jeito único de exteriorizar esse sentimento-continuou ela
                       -Mas é aí que você mesma se enforca!-admiti com um sorriso no rosto. Aquilo que eu sou condiz com aquilo que eu vou fazer, portanto no amor e em qualquer outra pessoa eu procuro algo que seja igual a mim e não diferente, não existe completude no amor-concluí
                       Loiuse já se preparava para rebater quando Ricchardo chegou de maneira apressada a lhe perguntar:
                       -A senhorita Camm quer alguma coisa?A mulher olhou para os lados enquanto observava surpresa ajeitando seu óculos de armação colorida que nas mesas ao redor não havia mais ninguém. As cadeiras velhas de madeira retalhada em fibra de eucalipto davam ao local um aspecto nostálgico. Entendera que era apenas uma pergunta rotineira para expulsar-lhes de lá, afinal o local já iria fechar. Mick aproveitava para checar seu relógio de bolso querendo ter certeza que a noite passara tão rápido.
                       -Sim, pode deixar na minha conta que depois eu me acerto com Don.
                       -Então...Virou-se para olhar Mick, mas ele já tinha ido embora.
                       -Ahhhh, ele foi embora sem se despedir,mas pode ter certeza que amanhã ele vai ver!-disse enfurecida enquanto se depedia cordialmente de Ricchardo.
                       -E então é ela a Loiuse de que todos falam?-perguntou um homem que se aproximava.
                       -Sim, ela vem aqui uma ou duas por semana falar com o Mick-responde
                       -Mas quem é Mike?-perguntou o outro
                       E olhou para a mulher cantarolando enquanto caminhava em direção à avenida.
                       -Bem....Ele não existe!- E se virou olhando para a cadeira vazia em que a mulher segundos antes havia se levantado.
CONTINUA...

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Deuses e Vermes










Ah! Desde a infância que tenho eu sobrepujado indagações:
-Para onde hão de ir as coisas? De onde casta o meu breve suspiro?
Silêncio. Não restou Deus inocente em sua inconsciência cósmica
Apenas um emaranhado de mentes e epopeias soltas, relutando por um vazio
Onde estarão os Deuses de que tanto me falaram?
Dormem eles em eternos momentos
Transfigurados sob a luz do sol
Cravados em frios monumentos
Suas verborragias se encontram em prol
Vermes certamente haverão de cobrir a minha face
Como o grito daqueles que não podem mais falar!
A Besta última do esquecimento
Profana túmulos, aprisiona passados
E materializa todos os meus anseios
Por justiça, por amor, por egoísmo
Ainda sobra uma verdade somente minha
É minha própria sombra!
É meu próprio Deus!
(Que a minha consciência dissolva a morte,
No silêncio do meu breve ninguém)