sexta-feira, 7 de março de 2014

Apenas uma vez







Estava deitado na cama do meu quarto quando ouvi essa frase pela primeira vez.
Era domingo. Eu estava doente-minguado-quase dando dó, sabe?
E a frase apenas surgiu na minha cabeça. Fiquei preocupado. Já eram tantas da madrugada e ainda não havia dormido. Era uma tentativa de cansar meu cérebro com mensagens vãs. Faço isso quando não tenho sono. Bem na parte da janela encostada havia um vão que tinha me passado desapercebido. E quem ia notar? Era tão pequeno e tão confuso quanto a lembrança de mim ainda pequeno, traçando letras em uma folha de caderno. Aprendia a escrever repetindo e espalhando traços em um papel e fazia isso todo dia. Chegou um momento em que era capaz de escrever de forma reta em um papel sem margens e fazia de maneira que as palavras não saíam tortas. Todos que olhavam se admiravam com isso, mas mal sabiam eles que aquilo que fazia tinha me rendido mãos que doíam. Eu não havia feito aquilo apenas uma vez. E agora, lembrando de como as coisas são, nada acontece sem esforço. Olhei pelo vão e do lado de fora da janela, estava uma menina loira com um vestido azul seguindo um coelho, minha atenção se voltou rapidamente para sua corrida desesperada e sem sentido, buscando uma coisa que nem ao menos sabia o que era. -Corra, Alice, corra!-por alguma razão eu ouvia seu pensamento- Você não vai deixar ele escapar, vai?
É... ninguém se atira se não acredita em nada. E se você tem algum sonho, alguma ambição, sempre vai se atirar sem saber o caminho, e é justamente essa escolha que te faz ser humano: se lançar ao primeiro desafio! Todos nós temos um pouco de Alice, ainda que não possamos perceber.
"Se você puder sentir a chuva, vai perceber que somente o impossível faz sentido".
Agora a frase que martelava minutos antes na minha cabeça, começava a fazer sentido, a ter sua importância. Em questão de minutos, meu cérebro finalmente se rendia à minha própria charada e se dava por vencido. Dormi. E o sentido dormia junto com o meu esquecimento. Pela manhã todos os fatos não passariam de imagens distorcidas de uma possível realidade. Como saber se eu não enganei você? Será que o que eu te contei é verdade? Você nunca saberá! Mas a sua curiosidade não terá fim. E como um bom Dom Quixote terei prazer em despertar sua sede de loucura.Não se contente com apenas uma vez!

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